Saturday, September 23, 2006

Anotador de Faces


Desenhos que explodem

Assim como Giacometti perseguiu a forma cabeça durante toda sua vida, Antonio Augusto, há muitos anos, desenha cabeças. A cabeça o obstina.
Mas seus desenhos, muito mais do que cabeças, são escrituras pintadas, lances de espada, pedaços de pólvora feitos de grafite, estalar de músculos que arranham o lápis no papel e na tela.
Antonio, também como Giacometti, centra seu pensamento e seu gesto no desenho mesmo quando pinta ou se dedica à escultura.
Tem o temperamento do artista autentico, avesso a modismos, obsessivo, cabeçudo mesmo. Seus desenhos em grandes formatos insistem em conservar ainda a forma fechada da cabeça reconhecível mesmo que os grafismos que se depreendem no espaço da folha estejam cada vez mais fortes e adquirindo maior autonomia no tratamento.
É aí, quando a linha se solta e se torna devaneio, que passeamos os olhos num território de delicias e surpresas, cidades fantásticas,lugares de ficção e fantasia. E ficamos absortos a percorrer estes descaminhos do desenho de Antonio, estas encruzilhadas que parecem sair do seu controle.
Os traços verticais, feito chuva, irrompem no espaço e marcam a superfície como uma faca de lâmina afiada. Os traços são agudos. Dá a impressão de que as cabeças estão querendo literalmente explodir, livrar-se dos contornos que ainda as aprisionam.
E ficamos aguardando, ansiosos, os estilhaços desta explosão.




Teresa Poester
Artista Plástica
Doutora pela Universidade de Paris I – Sorbonne
Professora no Instituto de Artes - UFRGS

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