Cobaias de Deus

Este trabalho tem a intenção de sensibilizar as pessoas pela expressão através do gesto na matéria, e dar a elas a possibilidade de uma livre interpretação. As cabeças modeladas em cera e colocadas em potes com água enfileirados lado a lado podem sugerir diferentes leituras. Como por exemplo, a instalação podendo ser vista como um grande laboratório onde o homem é a própria cobaia. Ou várias cabeças fechadas em seus potes, todas juntas, sem comunicação – talvez espelhando, desta maneira, o estado tipicamente contemporâneo das (não)relações interindividuais. Ou ainda, numa leitura mais corrosiva, poderia representar uma patética tentativa de conservar um modelo de humanidade que não existe mais, ou então, que está correndo risco concreto de extinção. O título da instalação escultórica “Cobaias de Deus”, inspirado em uma canção de Cazuza e Angela RôRô que tem forte ligação com a intenção conceitual e com a forma plástica de apresentação do trabalho.

Faço uma relação entre o material escolhido para a modelagem -cera de abelha- com a cabeça do ser humano, único tema modelado, possibilitando que a cera, material frágil e perecível, na maioria das vezes utilizado como meio para a fundição na técnica da cera perdida seja um dos materiais finais do trabalho. Para tornar isso possível escolhi conservar em potes com água. Relacionando assim a matéria com a forma, imaginando que o homem, ser fragilizado pelo tipo de vida contemporâneo e à beira do prazo de validade, se conserva pela assepsia não só material com também emocional.

Antônio Augusto

Fundação Cultural de Criciúma

Curadoria Ana Zavadil