Saturday, February 03, 2007

Um pote torto por natureza




















Um pote torto por natureza.


“ Nem tudo que é torto é errado.
Veja as pernas do Garrincha
e as arvores do cerrado”
Nicolas Behr



Uso o torno como não se deve usar. Ao invés de tentar tornear um pote padrão / regular / partindo sempre de um pedaço de barro bem centralizado , com paredes uniformes - sem bolhas de ar, nem rachaduras - feito com movimentos suaves e comedidos. Procuro sim uma modelagem expressiva, subvertendo dessa maneira a função do torno. Não me preocupo com o amassar do barro, nem com sua centralização no torno, aproveito os movimentos circulares para ao sabor do acaso ir vendo a forma que o próprio torno indica. Ao misturar diferentes tipos de argila, brinco com um nericome casual, onde a sorte ajuda e assim não há explosões nem rachaduras - de vez em quando rasgos, que sempre são bem vindos. Quando o pote já está em ponto de couro, utilizo um esteco, ou uma faca para retalhar a superfície dos potes, fazendo que assim apareçam os veios dos diferentes tipos de argilas, aproveitando para que o pote perca seu formato circular e passe a ter uma forma multifacetada.

Com essa maneira de modelagem em torno vejo pontos de ligação muito fortes e também de continuação com o meu trabalho de modelagem de cabeças, onde o que mais me parece evidente é o registro do gesto compulsivo / nervoso na matéria escolhida que é o barro – na minha opinião o material mais plástico que existe, e, que sendo assim, possibilita que haja a maior liberdade de expressão possível.

Tentando fazer um projeto que una os diferentes tipos de expressão artística que estou acostumado a realizar, pensei em misturar os potes com as cabeças. Utilizando também diferentes materiais como a cera de abelha [comumente utilizada para fundição de bronze na técnica da cera perdida ] arame queimado [ fazendo assim uma certa ligação com a linha do desenho] e a madeira de engradados de verduras que mal recortadas e mal pregadas [muito longe do ângulo de 90°] lembram os potes irregulares feitos no torno, assumindo sem problema algum uma displicência intencional.

Cabeças de cera feitas dentro de potes de cerâmica. Cabeças de cerâmica dentro de caixinhas de madeira. Vice e versa e assim por diante... procurando sempre que o acaso indique o caminho a ser seguido. Mesmo utilizando o torno em movimentos seqüenciados e circulares procuro um gesto livre na modelagem de um pote torto por natureza, onde o padrão se perde na mão que procura algo diferente.


4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

adorei estes potes tortos e corretos, Antonio! Parabéns pelo trabalho, sempre vivo e forte.

Abraços pra ti e força pra continuar seguindo. Esperemos, pois, que unidos no novo e prometido atelier.

5:08 AM  
Anonymous Anonymous said...

Que legal ver seu trabalho de cerâmica no blog, afinal ele é tão bom quanto seus desenhos. Você sabe que eu tenho um carinho especial por este trabalho, né? E eu acredito muito nele.
Faça o favor de não abandoná-lo!
Aliás, abriu inscrição para exposição na galeria do DMAE. Em breve abre o Goethe... Eu te apoio, Antônio!
Beijos

5:36 AM  
Blogger Unknown said...

o trabalho com o barro também tem muito forte a presença de AA, sempre subvertendo a técnica em função do diferencial, da novidade.
Coisas simplesmente tuas.Mais uma vez estou diante de um trabalho muito bom e de um texto, explicativo do processo mas encantador.
Ana

11:37 AM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Antonio que prazer ler sua experiência torta com o torno. Minha monografia em arteterapia será sobre este tema. As possibilidades terapêuticas do torno. Muito bom ter seu depoimento. Viver o torno torto, é dar possibilidade a organizar-se internamente com liberdade e soltura. Parabéns. Virginia Pirondi http://virginiapirondi.blogspot.com/

3:24 PM  

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